domingo, 11 de setembro de 2011

Algumas questões socioculturais e a obesidade

A obesidade, na Idade Média, chegou a ser considerada um padrão de beleza pela associação com a riqueza dos senhores feudais, portadores de seus próprios moinhos, capazes de transformar os alimentos, já não tão naturais, pelo processo de beneficiamento por que passavam, deixando-os mais atraentes. A industrialização trouxe consigo modificações significativas na sociedade, anteriormente marcada por uma vivência mais rural do que urbana, implicando em fortes transformações nos hábitos, nas dinâmicas social, cultural e econômica, nos valores, nas relações familiares. Assim, ela foi sendo responsável por uma cada vez maior possibilidade de destituir os alimentos de sua forma mais natural, com objetivos, dentre os quais, o de aumentar a qualidade de seu sabor e de criar novidades capazes de seduzir os futuros consumidores assíduos desses produtos encantadores. Porém, com o passar do tempo, essas atribuições positivas à manutenção de um sobrepeso corporal foram dando lugar ao padrão de beleza relacionado diretamente à acentuada magreza, do corpo feminino, especialmente. Com isto, parecem ter passado a coexistir duas forças sócio-culturais opostas, quais sejam: a adesão ao fast-food, com alimentos bastante desbalanceados nutricionalmente, por um lado, e a valorização do corpo magérrimo e praticamente inatingível das modelos famosas, por outro. Talvez se possa pensar, então, que o denominado Transtorno de Compulsão Periódica tenha suas características influenciadas e/ou reforçadas por tal ambigüidade sócio-cultural, já que ele se refere, principalmente a: episódios de compulsão alimentar periódica, de forma recorrente, indicadores subjetivos e comportamentais de reduzido controle, além de um significativo sofrimento causado pelos ataques de hiperfagia, que chegam a produzir sentimentos de vergonha pelo excesso ingerido.

Conclusão:

A obesidade parece apresentar uma etiologia bastante ampla, podendo incluir questões de teor biológico, psicológico e sócio-cultural. Assim sendo, estes dois últimos podem ser contemplados, a nosso ver, de maneira consideravelmente enriquecedora, ao se trabalhar psicanaliticamente em contexto grupal, trazendo a possibilidade de haver certa reprodução, em miniatura, de contextos e dinâmicas dos grandes grupos, expressando movimentos transferenciais múltiplos, os quais desempenham papel de primeira ordem na psicoterapia analítica de grupo.

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